terça-feira, 2 de junho de 2009

Depressão pós parto (DPP)

Depressão pós-parto (DPP)

O parto não é um "feliz evento" para todas as mulheres. Num elevado número de casos, as mães vivem dias, semanas ou mesmo meses de enorme perturbação a seguir ao nascimento do bebé.

Em certa medida, a situação é compreensível quando o filho não é desejado ou não é saudável ou quando o contexto da maternidade é desfavorável um companheiro hostil ou ausente, pobreza, solidão ou falta de apoios. Em muitos casos, porém, não há sinais de tão óbvias razões. A criança foi desejada e é normal, o lar parece feliz, há apoio por parte do companheiro e dos pais. Apesar disso, instala-se um terrível sentimento de ansiedade, tristeza e incapacidade para cuidar do bebé. A depressão pós-parto afecta uma em cada dez puérperas, embora as formas mais comuns sejam ligeiras e autolimitadas.

Duas outras situações podem ser classificadas como DPP:

• Uma depressão ligeira (baby blues), que afecta as jovens mães no terceiro ou quarto dia a seguir ao parto.

• Psicose puerperal.

A primeira, muito comum, ocorre em cerca de metade das novas mães. Crises de choro, ansiedade em relação ao bebé (quase sempre relacionada com a alimentação), alterações de humor, dificuldades de concentração, falta de memória, breve desencanto com o companheiro, fadiga, insónia e cefaleias são os sintomas mais referidos. E provável que as alterações hormonais, com a súbita diminuição dos níveis de estrogénio e progesterona, estejam subjacentes ao estado depressivo, mas a preocupação com o bebé contribui necessariamente para tal.

A psicose puerperal é um tipo grave de depressão que se manifesta nas seis semanas a seguir ao parto e afecta uma em cada 400 novas mães. A depressão é profunda, associada a sentimentos de culpa e rejeição da criança, com riscos quer de suicídio quer de infanticídio, sintomas delirantes e profundas alterações de comportamento, mas costuma responder bem ao tratamento (de preferência numa unidade hospitalar onde seja possível à mãe manter consigo a criança, embora sob vigilância).

 

Sintomas

O principal é o estado depressivo durante a maior parte do tempo. Para algumas mulheres, as manhãs são mais difíceis, para outras, são as tardes, e há dias melhores e piores. Num dia mau, pode nem haver vontade de viver.

  Ansiedade, muitas vezes expressa como medo de ser abandonada e de ficar sozinha a cuidar de um bebé indefeso, recusando-se a puérpera, por isso, a deixar o companheiro sair de casa.

• Irritabilidade, sobretudo em relação ao companheiro, a outras crianças e, por vezes, ao bebé.

• Fadiga, tão acentuada que a mulher chega a pensar que está doente ou anémica.

• Insónias, apesar de cair na cama exausta e mesmo que não precise de alimentar o bebé.

• Perda de apetite, não comendo nada e sentindo-se depois irritada e esgotada. Mais raramente, pode haver ingestão excessiva de alimentos associada a sentimentos de culpa.

• Falta de interesse na vida, incluindo indiferença pelo bebé e pelo companheiro, com o risco de destruir a relação.

• Incapacidade para agir por falta de tempo ou não saber fazer nada bem feito ou controlar a situação.

• Perturbação na ligação afectiva ao bebé.

 

 

 

Causas

 

A DPP não tem uma causa precisa, mas há factores de risco:

• Episódios anteriores de depressão, em particular de DPP;

• Relação conjugal insatisfatória;

• Bebé prematuro ou doente;

• Perda, na infância, da própria mãe;

• Acumulação de situações adversas, perda de um ente querido, problemas de alojamento, falta de dinheiro, etc.

É ainda provável que as alterações hormonais tenham uma certa influência, mas não há dados concretos que sustentem esta ideia. A descida dos níveis de estrogénio, progesterona e outras hormonas não é mais acentuada em mulheres com DPP do que nas restantes, posto que aquelas possam ser mais vulneráveis às alterações hormonais.

 

Diagnóstico

É provável que as mães não estejam muito dispostas a mostrar que se sentem infelizes quando todos à sua volta esperam delas o contrário. Todavia, um médico que conheça bem a incidência e gravidade desta doença não deixará de estar atento a possíveis sintomas. Quando se pergunta "Tem-se sentido deprimida depois do bebé nascer?" e a resposta é afirmativa, não será difícil explorar a possibilidade de DPP.

 

Tratamento

É fundamental fazer o diagnóstico e comunicá-lo à nova mãe: "Está com uma depressão pós-parto". A partir daí passa a haver uma razão clara para ela se sentir tão mal e sempre é melhor do que julgar que se está a enlouquecer. De resto, a maioria das mulheres já ouviu falar da doença na televisão ou na rádio ou leu alguma coisa sobre ela em revistas ou em jornais. Então é possível tranquilizá-las: "Vai melhorar, embora isso leve tempo e possa precisar de ajuda". Com o acordo da mulher, o companheiro deverá ser envolvido no processo. Provavelmente, também ele estará confuso e aflito, porventura até ressentido com as mudanças na companheira desde o nascimento da criança, e gostará talvez de saber o que pode fazer para ajudar a tratar a doença. Paciência, carinho, disponibilidade para ouvir, espírito positivo e contributo efectivo no trabalho da casa c nos cuidados com o bebé são ajudas preciosas.

 A família, a mãe, a sogra e as irmãs, em particular, e os amigos devem ser também chamados a colaborar sempre que possível. Apoio especializado pode ser prestado pelo obstetra e por um psiquiatra. E importante que a doença seja reconhecida precocemente e iniciado um tratamento antidepressivo adequado da mãe. "Desabafar" no ombro de um amigo, encontrando simpatia e compreensão sem crítica, poderá também proporcionar alívio e conforto. Os antidepressivos e antipsicóticos são importantes, ainda que muitas mulheres resistam a tomá-los. É preciso tranquilizá-las, assegurando-lhes que não causam dependência nem as vão fazer sentir-se pior. Não obstante, há que suspender a amamentação enquanto durar o tratamento.

 

Prognóstico

Em geral, a depressão mais ligeira resolve-se sem tratamento, mas o processo é lento e, entretanto, as relações familiares poderão ter sido seriamente afectadas. Em quadros de depressão maior e psicose, a terapêutica psicofarmacológica e a vigilância da relação mãe/filho por familiares ou profissionais de saúde mental são obrigatórias.

 

Prevenção

A DPP pode ser, até certo ponto, prevenida. É aconselhável reduzir compromissos e situações de potencial stress à medida que se aproxima a data do parto, não mudar de casa durante a gravidez e até o bebé ter, pelo menos, seis meses, fazer uma lista de possíveis baby-sitters, escolher uma pessoa para confidente e levar o companheiro às sessões de preparação para o parto.

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