terça-feira, 2 de junho de 2009

Personalidade Múltipla

Personalidade Múltipla

A ideia de que diferentes "indivíduos" coexistem na mesma pessoa, alternando entre si, é sedutora na ficção, mas de duvidosa realidade clínica. Em certas perturbações dissociativas, o doente sente-se como se uma dada acção tivesse sido praticada por outro indivíduo, separado dele. Trata-se de uma forma extrema de um mecanismo de defesa comum, no qual uma parte consciente do indivíduo nega acontecimentos traumáticos.

A situação foi magistralmente descrita por Robert Jay Lifton nas suas histórias sobre guardas de campos de concentração na II Guerra Mundial. No desempenho das suas funções, os guardas comportavam-se de forma brutal e sádica; quando voltavam para casa ao fim do dia, levavam uma vida normal e afectuosa com a família. Podemos afirmar que haviam compartimentado as duas facetas de si próprios de modo que não interagissem, e conseguiam-no, em parte, por terem o apoio dos seus pares e, em parte, devido à propaganda político-cultural que considerava as suas vítimas como sub-humanas, logo não merecedoras da consideração devida aos humanos.

Habitualmente, a dissociação como mecanismo de defesa não atinge tais extremos, sendo mais saudável do que parece. É o que sucede com aqueles profissionais que, tendo uma actividade de grande stress, como trabalhar com doentes em estado terminal ou em serviços de emergência medica, conseguem "desligar" quando acabam o serviço.

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