terça-feira, 2 de junho de 2009

Perguntas mais frequentes sobre o sono

Mesmo sendo uma actividade que praticamos todos os dias e que ocupa a terça parte da nossa vida, a maior parte de nós conserva muitas dúvidas sobre o que é o sono e como funciona. Neste capítulo, respondemos às perguntas mais frequentes sobre o sono

 

1. Porque dormimos?

O sono é fundamental para preservar a saúde e a vitalidade do corpo e da mente. O tempo que passamos a dormir - uma pessoa que viva 90 anos terá passado na cama o equivalente a 37,4 anos - não é um parêntese no qual nada acontece. Antes pelo contrário, é um período activo em que se produzem alterações hormonais, bioquímicas, metabólicas e na temperatura corporal, imprescindíveis para um bom sono e um correcto funcionamento diurno. Embora possa parecer óbvio, dormir permite-nos estar despertos e estamos despertos para poder dormir.

 

2. O que acontece às pessoas que não conseguem descansar bem?

Está comprovado que, a curto prazo, a sua saúde física, mental e emocional ressente-se. É indispensável dormir bem para usufruir de uma boa qualidade de vida. Prova disso é que uma noite mal dormida faz com que, no dia seguinte, estejamos cansados, irritáveis e pouco concentrados. Um bom descanso depende da maneira como enfrentamos tanto a vigília como a hora de nos deitarmos. Se à noite chegarmos a casa ansiosos e tensos, ser-nos-á mais difícil conciliar o sono e descansar bem. Neste caso, não poderemos cumprir da melhor maneira a acção reparadora de que o organismo precisa.

 

3. Há pessoas que asseguram mal precisarem de dormir. Será possível?

De maneira nenhuma. O sono é uma necessidade fisiológica tão essencial para a sobrevivência como a fome ou a sede. Tal como as aves ou os peixes, ninguém pode viver sem um mínimo de sono. Está demonstrado cientificamente que, se uma pessoa não dormisse nada, morreria num espaço não superior a sete dias. Por este mesmo motivo, a escassez ou a má qualidade do sono podem desencadear graves perturbações para a saúde corporal e psicológica.

 

4. Quais são os sintomas de que não descansamos adequadamente?

A sonolência em momentos não apropriados é um sinal evidente de que não usufruímos de um excelente sono nocturno. Se tivermos sono durante o dia, o mais provável é que tenhamos dormido poucas horas ou que estas tenham sido de sono superficial. Neste sentido, a sonolência diurna pode ser considerada uma perturbação patológica, visto que afecta os estímulos externos que permitem mantermo-nos acordados. Quando a sonolência é grave, pode tratar-se de uma importante perturbação conhecida como "sonolência diurna excessiva". O que, por sua vez, pode ser um sintoma de doenças mais graves, como a síndrome de apneia obstrutiva do sono, a narcolepsia, a insónia ou as mudanças radicais no horário de dormir.

 

5. Além das dificuldades na vida profissional ou familiar, que perigos comportam as perturbações do sono?

Um dos indicadores mais alarmantes dos efeitos da sonolência são os acidentes rodoviários. Comprovou-se ser nas horas de máxima sonolência, entre as duas e as seis da manhã e entre as duas e as quatro da tarde, que se produzem mais acidentes devido ao cansaço e à fadiga. Por exemplo, no Reino Unido, verificou-se que 27 por cento dos acidentes rodoviários tinham sido devidos à fadiga ou ao sono excessivo; 87 por cento destes casos foram mortais. O mesmo acontece com os acidentes laborais, visto que quando diminui a atenção do trabalhador, aumenta automaticamente o risco. Esta situação aparece normalmente nas pessoas que trabalham vários turnos seguidos, sucessivamente.

 

 

6. Nas vossas consultas, aparecem muitas pessoas com estes problemas?

Aproximadamente uma quinta parte dos pacientes que recorrem a uma Unidade do Sono fá-lo por causa deste problema, e quase metade deles sofreu um acidente rodoviário. Nos pacientes mais jovens, esta perturbação demonstrou estar directamente relacionada com os fracassos escolares ou os problemas de conduta. As consequências desta problemática na saúde pública são enormes, assim como o custo que deriva do tratamento incorrecto destas patologias.

 

7. Como funciona o sono?

O descanso nocturno compõe-se de cinco fases que, no seu conjunto, formam um ciclo igual em todas as pessoas. No decorrer de uma noite, podemos completar até quatro ou cinco ciclos completos.

Durante o dia, o nosso corpo produz adrenalina, o que nos mantém despertos e dispostos a fazer esforços físicos e intelectuais. Quando o dia termina, o cérebro gera então a hormona do sono: a melatonina. O caudal sanguíneo da musculatura diminui, reduzem-se os reflexos, os músculos descontraem e a temperatura do corpo baixa.

À medida que a adrenalina e as outras substâncias que nos ajudam a estar despertos diminuem, vamos progressivamente perdendo lucidez. Isto não quer dizer que o cérebro paralise: é precisamente nesse momento que o cérebro produz mais glucose, que funciona como o combustível que o faz funcionar. Portanto, o cérebro está no seu máximo rendimento, embora o trabalho produzido não se traduza em actividade física. É nessa altura que começa a primeira fase do sono, denominado estado de sonolência. Os olhos fecham-se pelo cansaço, os músculos distendem-se e a respiração torna-se uniforme; a actividade cerebral é mais lenta do que durante a vigília. Esta primeira fase é breve, durando entre trinta segundos e alguns minutos.

 

8. E o que acontece depois?

Depois, passamos para uma segunda fase em que o sono já não é superficial e as ondas do cérebro se tornam cada vez mais lentas. Avançamos deste modo para o terceiro nível, que se denomina sono profundo ou sono delta, compreendendo as fases 3 e 4. Neste estádio, o sono torna-se lento porque as ondas cerebrais são cada vez mais pausadas. Se alguém quisesse acordar-nos, teria de usar fortes estímulos acústicos ou tácteis para o conseguir. O tempo transcorrido entre o segundo e o quarto nível do sono pode prolongar-se por 60 a 70 minutos.

Quando o suplantamos, atinge-se a última fase do sono, conhecida por REM, sigla inglesa de Rapid Eye Movement e que significa "movimento rápido dos olhos". Este indício, perceptível para quem observa alguém que dorme, evidencia o nível máximo de profundidade do sono.

 

9. O que sucede nesta última fase?

É justamente nesta altura que sonhamos. Em diferentes experiências, comprovou-se que, despertando uma pessoa na fase REM, esta poderá lembrar-se do que estava a sonhar, o que não acontece nas outras fases. Quando chegamos a este ponto, completámos um ciclo de sono que, no total, pode durar entre 90 e 120 minutos. Ciclos que podem repetir-se quatro ou cinco vezes. A duração de cada fase varia ao longo da noite. No primeiro ciclo, a fase REM pode durar uns meros cinco minutos, ao passo que no último pode estender-se por 30 a 60 minutos.

 

10. Algumas pessoas afirmam que nunca sonham. Poderá ser verdade?

Toda a gente sonha quatro a cinco vezes por noite; o que acontece é que nem todas as pessoas conseguem lembrar-se dos seus sonhos. Para recordá-los, precisamos de acordar no momento oportuno e, à medida que crescemos, o número de despertares vai aumentando. Por isso, as pessoas mais idosas lembram-se de bastantes sonhos, enquanto os jovens e adultos unicamente têm consciência do último sonho que tiveram antes de o despertador tocar. Existem também casos particulares de pacientes que tomam determinados medicamentos - como antidepressivos ou fármacos contra a doença de Parkinson -, os quais suprimem o sono REM.

Em psicoterapia, algumas pessoas treinam-se para recordarem melhor os seus episódios oníricos. Os sonhos são esquecidos rapidamente ao despertar; portanto, se deseja lembrar-se deles, ponha lápis e papel na sua mesinha-de-cabeceira e, assim que despertar, escreva tudo aquilo de que se lembrar.

 

11. Há muitas pessoas com grandes dificuldades em conciliar o sono. Como podem remediar esse problema?

Como qualquer actividade que se realiza diariamente, dormir é um hábito que exige determinadas rotinas e rituais. Repetir todos os dias certas acções prepara-nos para passar da vigília ao estado de sonolência sem nos darmos conta. Já pensou nos actos que executa habitualmente antes de se deitar? É muito possível que, se não realizar algum deles, como lavar os dentes ou preparar a roupa para o dia seguinte, sinta um certo incómodo ou mal-estar que lhe torna difícil adormecer. O nosso corpo está habituado a estes actos, que constituem os passos prévios para a entrada no sono. Algumas pessoas adormecem normalmente com o rádio ou a televisão acesos, o que não é aconselhável. Outras gostam de ler um pouco antes de fechar os olhos. Todos estes actos são rituais fixos e que podem ser compartilhados com outra pessoa, se se vive acompanhado. Por exemplo, é ou não habitual que cada qual ocupe sempre o mesmo lugar da cama ou que se deite de determinada maneira?

 

12. Em que consiste a rotina que promove o sono?

Quando falamos dos mecanismos que ajudam a conciliar o sono, podemos resumir estes actos em dois passos imprescindíveis: o relaxamento físico, até conseguir uma total imobilidade do corpo, e o relaxamento psíquico ou desconexão mental, o que acontece quando os neurónios deixam de transmitir informação, permitindo que o sono, originado nas estruturas profundas do cérebro, possa aflorar.

 

13. Existe a opinião de que ter relações sexuais antes de adormecer ajuda a conciliar o sono. Será verdade?

Não se pode generalizar, porque depende de muitos factores e de cada pessoa. Na maior parte dos casos, o homem adormece imediatamente após o orgasmo, ao passo que a mulher costuma ficar desperta durante algum tempo. Para certas pessoas, o sexo é demasiado estimulante, despertando-as. A outras, sucede-lhes o contrário. Cada casal deve saber o que mais lhe convém para propiciar o sono.

 

14. No momento de adormecer, haverá posições mais recomendáveis do que outras para usufruir de um bom descanso?

Saber qual é a posição mais adequada para conciliar o sono é uma das questões fundamentais para um descanso de qualidade. Frequentemente, experimentamos diferentes posições e combinações que vamos ensaiando com as respectivas variantes até adormecermos. Contudo, cada pessoa costuma saber em que posição adormece mais rapidamente, o que costuma variar em função do seu peso corporal. Uma pessoa magra terá menos dificuldade em encontrar uma posição, enquanto os obesos se deparam com mais limitações no momento de escolher.

 

15. A idade influi na posição escolhida para dormir?

Sem dúvida. Enquanto os recém-nascidos e os lactentes podem dormir de barriga para cima, para as pessoas adultas esta posição é incómoda, pois dificulta a respiração. Isto deve-se ao facto de, quando dormimos de barriga para cima, os músculos da garganta e a língua se descontraírem, fazendo com que a passagem do ar se torne mais difícil. O cenário mais propício para uma sinfonia de ressonos!

De qualquer maneira, há, de facto, posições mais convenientes do que outras. Já vimos que a posição de barriga para cima é apenas recomendável para os bebés. Há pessoas que dizem dormirem de bruços, se bem que na realidade o façam um pouco reclinadas para um lado e, normalmente, com o braço debaixo da almofada. Não é uma má posição, embora seja um pouco incómoda para as pessoas de mais idade.

 

16. O mais usual é dormir de lado?

Sim. Por exemplo, podemos dormir virados para o lado esquerdo, onde se encontra o coração. Algumas pessoas nunca adoptam esta posição com medo de prejudicarem o coração, mas este é um temor infundado. O coração não sofre devido ao nosso peso. Na realidade, a caixa torácica pode aguentar três vezes o peso do nosso corpo, razão pela qual não há qualquer perigo de dormir sobre o lado do coração. Só deve evitar esta posição se o incomoda ouvir as batidas cardíacas.

A outra possibilidade é dormir virado para o lado direito. Estas duas posições são as mais recomendáveis, tanto para os adultos como para os bebés. No entanto, não nos devemos preocupar demasiado com esta questão. O nosso corpo é muito sábio e acomoda-se naturalmente à posição mais adequada no decorrer da noite. Graças aos ligeiros despertares inconscientes que se produzem ao longo da noite, podemos mudar de posição, impedindo que nos levantemos com dores ou contracturas, o que sucederia se dormíssemos sempre na mesma posição.

 

 

 

17. Quantos desses despertares inconscientes temos por noite?

Nas diferentes fases de cada ciclo de sono, temos entre seis a oito despertares muito breves. No caso das crianças e adultos, estes estados não costumam durar mais de 30 segundos. Pelo contrário, nas pessoas idosas, a duração pode ser de dois a cinco minutos. Em qualquer caso, trata-se de uma situação normal em que adoptamos uma posição mais adequada ou nos tapamos se temos frio.

 

 

18. Quando adormecemos, experimentamos por vezes a sensação de cair num poço. A que é isso devido?

Poucos minutos após termos começado a dormir, é bastante comum sentirmos repentinamente uma descarga eléctrica que interrompe momentaneamente o sono. Passamos de uma fase de máxima descontracção para uma outra de tensão imprevista. Este abanão costuma ser acompanhado de um movimento brusco do corpo, que não só desperta quem o tem, mas inclusivamente pode despertar o nosso parceiro, no caso de dormirmos acompanhados.

A maior parte das pessoas descreve este fenómeno como uma sensação de tropeçar, dar um salto ou cair num poço. Os especialistas denominam este movimento de "mioclonia do adormecimento". Trata-se de fenómenos fisiológicos perfeitamente normais que não devem preocupar ninguém. Têm lugar quando nos encontramos na fase de sonolência, aquela que dará lugar às fases posteriores de sono superficial, profundo e fase REM, que se repetem ciclicamente ao longo da noite, finalizando com o despertar.

 

19. Algumas pessoas dizem: "Como é possível estar a ressonar se ainda nem adormeci?" Porque têm elas esta percepção?

A explicação é muito simples: às pessoas que ressonam assim que baixam as pálpebras e adormecem, também se lhes fecha a orofaringe, ou seja, a garganta. Isto faz com que comecem a ressonar de imediato. Não se apercebem de terem adormecido porque se encontram na fase de transição entre a vigília e o sono, que é muito superficial. De qualquer modo, uma coisa é certa: ninguém ressona acordado.

 

20. Porque é que há pessoas que fazem barulho com os dentes enquanto dormem? Que medidas podem ser tomadas para atenuar esta perturbação?

O ranger dos dentes durante o sono é conhecido por bruxismo. Existem muitas teorias para explicar este fenómeno: algumas atribuem-no a um mau implante dental, outras ao stress excessivo, e também se fala de factores genéticos. Embora não se conheçam com precisão os factores que o provocam, as últimas teorias relacionam o bruxismo com problemas do sistema nervoso central. Para o mitigar ou reduzir, as próteses especiais que os odontologistas receitam podem ser úteis, assim como exercícios de relaxamento mandibular antes de adormecer, o que consiste em manter os lábios juntos, mas com os maxilares abertos e descontraídos, e visualizar esta posição bucal enquanto se adormece.

 

21. Algumas pessoas sofrem de ataques de fome em plena noite. A que é isso devido? Existe alguma maneira de prevenir os "assaltos nocturnos"?

A causa mais frequente deste problema costuma ser um jantar insuficiente por parte de pessoas que estão a fazer dietas hipocalóricas. Neste caso, é aconselhável comer alguma coisa antes de se deitar para evitar aquilo que é conhecido como "hipoglicemia nocturna". Estes episódios tornam-se mais frequentes em épocas de stress, pelo que convém ter no frigorífico alimentos dietéticos, de modo a conseguir atenuar os ataques de fome e evitar o aumento de peso.

 

 

22. Falar enquanto se sonha é uma perturbação?

Algumas pessoas falam em certos momentos enquanto dormem. Este fenómeno é conhecido pelo nome científico de soniloquia. A situação pode ter graça ou provocar um susto a quem, a meio da noite, ouve uma frase absurda proferida pelo seu companheiro de quarto. Mas falar a dormir é algo normal que acontece praticamente a todas as pessoas, especialmente às crianças. Enquanto dormimos, podemos dizer palavras ou frases soltas que normalmente são incoerentes. A maior parte das pessoas é incapaz de manter um diálogo enquanto dorme, devendo-se isso ao facto de as funções cerebrais necessárias para responder não se encontrarem em funcionamento. Contudo, algumas pessoas são capazes de responder a uma ou outra pergunta ou de entabular um diálogo absurdo, provocando a diversão no interlocutor que está acordado.

 

23. Em que fase do sono acontece este fenómeno?

Na fase onírica, ou seja, no período REM. Daí que as palavras que pronunciamos enquanto estamos a dormir tenham relação com o que estamos a sonhar. Atendendo a que a fase REM é mais prolongada na segunda metade da noite, é habitual que os conversadores nocturnos iniciem os seus solilóquios antes do amanhecer.

 

24. Quanto tempo é preciso dormir todas as noites?

Não existe um parâmetro fixo para toda a gente. As horas que cada um precisa de dormir dependem de cada caso particular. Entre muitos outros factores, poderíamos referir a idade e até os genes. Embora se desconheça com exactidão o grau de exigência de sono que o organismo reclama, os limites oscilam entre as cinco ou seis horas e as nove ou dez horas. Normalmente, um lactente precisa de onze a doze horas de sono; uma criança, de nove a dez horas; um adolescente, de cito a nove horas; um adulto, de sete a oito horas; e as pessoas com mais de 70 anos, de cinco a seis horas por noite.

 

25. Como podemos, então, determinar a nossa exigência individual de sono?

Para determinar com precisão, poderíamos, durante uma semana, dormir um número de horas diferente cada dia e ver como nos sentimos no dia seguinte. Se quisermos obter dados fiáveis, deveremos registar no dia seguinte quantos cafés tivemos de tomar para nos mantermos acordados, quantas páginas do nosso livro de cabeceira conseguimos ler ou quanto tempo aguentámos diante do televisor depois de jantar.

Outro exercício mais simples é somar as horas que dormimos durante os dias de trabalho numa semana e dividir o resultado por cinco; depois, somar as horas que dormimos nos últimos três fms--de-semana e dividir o resultado por seis. Ao compararmos as duas cifras, poderemos ver se existem diferenças. Se a primeira cifra for, por exemplo, seis horas e a segunda for nove horas, fica claro que, durante a semana, não dormimos as horas suficientes de que o nosso corpo necessita. Deveríamos equilibrar o resultado de ambas as cifras.

Se, ao viajar de autocarro ou de metro, deixamos passar a nossa estação, ou se, durante o dia, somos constantemente assaltados por desejos de dormir, é sinal de que não dormimos o suficiente na noite anterior. Pode tratar-se de um défice de horas ou de qualidade do sono. Em qualquer caso, indica que não gozámos de um sono reparador.

 

26. É verdade que dormimos menos do que devíamos?

A maior parte dos adultos precisa de dormir mais do que o faz habitualmente para poder funcionar bem durante o dia. Foi realizado em cinco países europeus um estudo paralelo sobre o número de horas dormidas pela população. Os resultados demonstraram que os espanhóis dormem uma média de 40 minutos menos do que o resto dos europeus. Os nossos costumes socioculturais têm muito a ver com isso: costumamos trabalhar até tarde, jantamos ainda mais tarde e deitamo-nos entre a meia-noite e a uma da manhã, em média. No entanto, no dia seguinte levantamo-nos à mesma hora que o resto dos europeus. Estes costumes noctívagos são partilhados pela Argentina e outros países latino-americanos.

 

27. As pessoas idosas dormem menos horas por noite. A que se deve isso?

Como dissemos antes, a idade é um dos factores que mais influência tem no sono. Quando envelhecemos, dormimos menos de noite ou fazemo-lo de maneira descontínua. Mas compensamos esta redução de tempo dormido com pequenas sestas durante o dia. Portanto, se somarmos o tempo que uma pessoa idosa dedica a dormir, veremos que, no total, é semelhante ao de um adulto. É normal que uma pessoa de 70 anos durma entre cinco a seis horas por noite, e faça um par de sestas entre dez a 20 minutos cada uma, durante o dia. Isto não quer dizer que não haja pessoas idosas que possam dormir sete ou oito horas por noite.

 

 

 

 

28. Que dificuldades estas mudanças no ritmo do sono podem acarretar?

Basicamente, desajustamentos na rotina do resto da família. Se uma pessoa idosa se levantar no momento em que termina o seu sono, digamos às cinco ou seis da manhã, poderá ser demasiado cedo para preparar o pequeno-almoço para o resto da família. Além disso, correria o risco de acordar os que ainda estão a dormir, quer com a luz do corredor ou o barulho da água se for à casa de banho, quer tropeçando nalgum móvel. Muitos familiares julgam que esta dificuldade dos idosos em prolongar o sono nocturno se deve às sestas que fazem durante o dia.

 

29. E isso é verdade? As pessoas idosas deveriam ser privadas da sesta para não dificultarem o descanso nocturno?

Nas pessoas idosas, o descanso diurno é uma necessidade diferente da do sono nocturno. Digamos que um completa o outro. É um erro tentar evitar as sestas pensando que, assim, a pessoa estará mais cansada e prolongará o sono durante a noite. Na verdade, os idosos costumam passar mais tempo na cama a descansar do que a dormir. Têm pouca necessidade de sono e, pelo contrário, muitas horas para estarem na cama. Exactamente o contrário de quando se é mais jovem: tem-se muito sono e pouco tempo para estar na cama.

 

30. Dormir a sesta é saudável noutras idades?

Ainda que normalmente esteja condicionada pelas circunstâncias do trabalho, esta pequena desconexão diária é muito saudável para os adultos. No entanto, não deveria prolongar-se para lá dos 20 minutos: tanto bastará para enfrentar a tarde com um pouco mais de energia natural. Se dormirmos mais, podemos eventualmente aprofundar-nos em demasia no sono, provocando um despertar confuso. Por isso, algumas pessoas afirmam que a sesta não lhes cai bem: porque dormem de mais. Com excepção da terceira idade, a sesta nunca deve servir para compensar as poucas horas de sono nocturno. A sua única missão é enfrentar melhor o resto do dia, pois cumpre com as pequenas necessidades de sono que o nosso cérebro tem entre as duas e as quatro da tarde.

 

31. Muitos jovens têm um ritmo de sono caótico. Durante a semana, podem dormir muito pouco e depois "recuperam" no fim-de-semana. Isso é prejudicial?

O sono perdido não se recupera, é um facto. Os especialistas sabem que a perda de horas de sono é cumulativa. Suponhamos que uma pessoa precisa de dormir oito horas diárias para se levantar descansada. Se, durante a semana, dormir uma hora a menos por dia, não será simplesmente uma hora que perde; no fim da semana, terá roubado ao sono cinco preciosas horas. Se ao sexto dia (costuma ser ao sábado) pretender "recuperar", dormindo oito horas seguidas, a sensação que realmente terá quando se levantar será a de só ter dormido três. Sairá da cama com uma sensação de cansaço.

 

32. Outra crença é que quanto mais dormimos, mais sono temos.

Trata-se de outra crença errada. Muitas pessoas não se importam de perder horas de sono, por pensarem que assim vão render mais no trabalho. Como se o sono fosse uma pastilha elástica que se estica e encolhe em função do que nos convém em determinado dia! Nada disso é certo. Nunca se dorme mais do que se precisa. Pensemos apenas nas nefastas consequências da falta de horas de sono: as pessoas que dormem menos do que precisam têm 40 por cento mais de possibilidades de sofrerem acidentes rodoviários, além de padecerem de um défice de concentração e de perturbações, como a ansiedade e a depressão.

 

33. Nos dias em que não temos de pôr o despertador, o que nos desperta?

Temos um relógio interno que se põe em funcionamento todos os dias para nos despertar. Tal deve-se ao facto de existirem no nosso corpo substâncias químicas relacionadas com o sono e a vigília. O cortisol é uma delas: acumula-se no sangue precisamente quando a luz solar começa a romper, ou seja, de madrugada. É então que a temperatura do nosso corpo aumenta umas décimas, e outra hormona, a melatonina, começa a desaparecer do sangue. Por conseguinte, o despertar fisiológico e espontâneo não é casual; trata-se antes da resposta final a um processo em que intervêm hormonas, a temperatura corporal e a luz.

 

 

34. Quando temos um despertar deste tipo?

Para saber se tivemos um despertar espontâneo e fisiológico, devemos prestar atenção à sensação que nos envolve nesse momento. Se sentimos o conforto de ter dormido bem, de ter usufruído de um sono reparador, não restarão dúvidas de que o nosso despertar foi completamente fisiológico. Se não experimentamos a sensação de ter dormido bem, será porque sofremos um despertar espontâneo precoce: não dormimos o suficiente e, no entanto, o nosso próprio corpo fez-nos abrir os olhos. Muitas pessoas que atravessam uma fase de debilidade física, ou um estado de depressão leve, têm um despertar espontâneo precoce. Acordam após terem dormido apenas duas ou três horas, não conseguindo depois voltar a conciliar o sono.

 

35. E o despertar provocado?

Se existir um elemento estranho que interrompa o sono, falamos de um despertar provocado, que pode ser devido a diversos estímulos. O auditivo, provocado pelo despertador, é o mais frequente dos estímulos externos a que recorremos. O timbre, o zumbido ou a música que emite constitui uma ajuda que usamos para sair do sono e entrar na vigília. Mas o estímulo externo também pode ser de tipo táctil e até olfactivo, como o aroma do café acabado de fazer.

 

36. É curioso que, uma vez a dormir, fiquemos isolados dos estímulos externos. Deixamos de ouvir?

Durante a noite, a nossa capacidade auditiva permanece activa, ainda que com menor intensidade. Por exemplo, se falarmos baixinho junto do ouvido de uma pessoa adormecida, ela provavelmente limitar-se-á a voltar-se para o outro lado e continuará a dormir. Este movimento pode ser totalmente inconsciente. Contudo, se franzir o cenho ou entreabrir os olhos, isso quer dizer que a incomodámos numa fase mais superficial do sono. Mais ainda: se continuarmos a falar no mesmo tom sem variações de intensidade, o cérebro da pessoa que dorme acaba por se habituar e não se perturbará. Porém, se intensificarmos o estímulo - neste caso, elevando a voz -, despertá-la-emos definitivamente. Dependendo da fase do sono em que a pessoa se encontre, custar-nos-á mais ou menos, mas acabaremos por fazê-la recuperar o estado de vigília. Quanto maior for a profundidade do sono, mais intenso e insistente deverá ser o estímulo.

É curioso verificar como, no caso dos estímulos auditivos, o cérebro humano se revela altamente selectivo. Tomemos o exemplo de uma mãe e do seu recém-nascido: ela é capaz de dormir apesar do estrondo de uma forte tempestade e, no entanto, ante o menor gemido do seu bebé, abrirá os olhos imediatamente.

 

37. Porque é que algumas pessoas nunca ouvem o despertador? Como se pode resolver a situação?

Geralmente, as pessoas com falta de horas de sono têm muita dificuldade em acordar. Não ouvem o despertador porque se encontram num sono muito profundo e tentam compensar o que não dormiram noutras noites. Este problema remedeia-se simplesmente dormindo as horas necessárias todos os dias. É a única solução.

 

38. Num célebre anúncio de televisão, alguém diz ao seu parceiro: "Não há quem te aguente de manhã." Porque acordam algumas pessoas de mau humor?

Certas pessoas acordam rapidamente. Mal abrem os olhos, põem-se logo em acção. Falam alto, movimentam-se a todo o gás e programam o dia enquanto lavam os dentes ou tomam o pequeno-almoço. De um momento para o outro, encontram-se num estado de plena vigília. Outras, pelo contrário, porque o seu despertar é muito mais lento, precisam de um tempo de adaptação. Fazer alongamentos para se espreguiçarem é das poucas coisas que o seu motor, ainda frio, lhes permite. Por isso, permanecem durante alguns minutos aturdidas em cima da cama. Exagerando um pouco, são estes que, quando conseguem um óptimo rendimento nas suas tarefas... já é meio-dia!

Está demonstrado que estas diferenças têm uma explicação genética. Prova disso é que, logo nos bebés, a partir dos seis ou sete meses, se pode ver se existe um despertar rápido ou lento. Os primeiros abrem os olhos sem quase fazerem barulho e sorriem de imediato à voz que lhes dá os bons-dias. Os de despertar lento, pelo contrário, precisam de um tempo para entrar plenamente no novo dia e, enquanto isso, costumam estar de mau humor. É comum as crianças de despertar rápido não terem problemas de ir para a escola: são pontuais, quer na hora de se deitarem quer na hora de entrar na sala de aulas. Precisamente o oposto das crianças de despertar lento, que chegam à escola sempre em cima da hora e que nunca querem ir dormir.

 

39. E essa tendência mantém-se pela vida fora?

Geralmente, sim. As pessoas que têm um despertar rápido preferem deitar-se cedo e madrugar. Não são como as de despertar lento, para quem o momento de se deitarem parece nunca chegar.

Mas aqui há algo curioso: como é bem sabido, os pólos de energia oposta atraem-se. Pois bem, o mesmo acontece frequentemente entre cônjuges no que respeita ao seu modo de despertar. O acaso, esse misterioso braço do destino, junta muitas vezes uma pessoa de despertar rápido com outra que tem o despertar lento. Mal dá os bons-dias, o rápido segue com a lista de tarefas a cumprir durante o dia, as suas e as do parceiro. Ou seja, a actividade frenética pôs-se em pé enquanto, a seu lado, a pessoa de despertar lento mal abre os olhos e tenta concentrar-se noutra tarefa mais árdua e prioritária: acordar.

Quando ambos voltam a encontrar-se em casa à noite, é muito provável que o cônjuge do despertar rápido verifique que nada ou quase nada do que predicou surtiu efeito. Esquecimento? De forma nenhuma! A outra pessoa não se esqueceu; simplesmente, não ouviu, pois o acto de pôr em marcha a sua máquina para conseguir acordar já lhe custava bastante!

 

40. Que deve fazer uma pessoa que tem repetidamente dificuldades em descansar bem?

Se tem problemas relativamente ao sono, a primeira coisa a fazer é visitar o seu médico de família. Algumas perturbações podem ser solucionadas com essa consulta. Os problemas mais graves, pelo contrário, devem ser diagnosticados e tratados pelas Clínicas ou Unidades do Sono. Estes centros são serviços médicos especializados em tratar todas as alterações do sono. Hoje em dia, os hospitais mais importantes contam com estes serviços e, além disso, existem prestigiosos centros privados com esta especialidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário